Râguebi: “Há sempre uma hipótese”. Sevens na cidade dos Anjos

A seleção portuguesa de râguebi sevens tenta hoje e amanhã, em Los Angeles, Estados Unidos da América (EUA), a qualificação direta para a 2.ª Divisão das World Series, novo escalão secundário criado pela World Rugby após restruturação do Circuito Mundial da variante (ver caixa).

O play-off junta as quatro melhores seleções da Challenger Series (Portugal, campeão no circuito) e as quatro últimas classificadas das Sevens World Series. Os lobos estão no grupo A, juntamente com os Estados Unidos da América, anfitriã, Quénia e Samoa (derrotada pelos lobos na final da Challenger).

“Não vou ser hipócrita e dizer que estava (à espera), face aos níveis de investimento”, reconheceu Frederico Sousa, selecionador nacional, questionado sobre se esperava  disputar o torneio na Cidade dos Anjos.

“Mas, temos de trabalhar com o que temos. O râguebi nacional não tem orçamentos folgados de outros países e face as circunstâncias, às vezes, temos de apostar nos ovos certos, nos cavalos certos”, apontou.

Manifestando “alguma curiosidade em relação ao grupo”, antes do arranque da caminhada que levou a equipa até Los Angeles, admitiu a falta de “competição” como “fator de comparação”, em relação aos adversários. “Nunca tinham sido testados”, salientou. “Ainda bem que o teste correu bem e tem sido uma ótima etapa para todos de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal”, realçou o timoneiro dos lobos.

Estar em LA é “uma meia vitória”, depois de liderar “uma equipa jovem” que alcançou a vitória nos Challengers, circuito (três etapas) em que a “maior parte das equipas são altamente profissionais”, comparou.

“Aliás, quando lá chegámos, ficou tudo a olhar para nós, meio a rirem-se…vieram com a equipa do sub 18, sub 20”, recordou.

Aos mais experientes Paiva dos Santos e Manuel Vareiro, cita jovens que integraram a seleção. “Estamos a falar do Martin Dias, Bernardo Valente, Max, Edgar, Francisco Almeida e José Monteiro. Nomes muito fora do radar das pessoas”, evidenciou.

Para Frederico Sousa, o espelho das vitórias ao longos dos torneios traduziu-se numa conquista. “Já começámos a ter o respeito. Esse respeito conquista-se”, referiu.

Reconhece a existência de diferenças entre as seleções que Portugal irá defrontar. “O salto já foi maior para a última etapa. Agora, ainda será maior. A Alemanha vai às Fiji e ao Dubai. Nós vamos aqui a Alcântara e ao Jamor. Faz muita diferença”, salientou.

“Ao contrário das outras equipas que estão a full time, nós não temos muito tempo”, confessou o selecionador nacional, ao realçar os poucos dias de preparação para um torneio desta importância, quando comparado com os rivais.

Olha para os jogos em Los Angeles e, a frio, admite: “há sempre uma hipótese”, disse. “As coisas definem-se num ou dois jogos. Depende da fase dos grupos. Pode ser só num jogo e, num jogo pode tudo acontecer. Já fizemos isso antes. E, às vezes, é aquela pontinha de sorte, também faz parte”, resumiu.

A capa de underdog parece não viajar com os lobos. “Como ganhámos os títulos, vão estar atentos a nós. Vão tomar mais cuidado. É jogo a jogo”, registou Frederico Sousa que destacou uma das forças dos sevens: “a concentração” durante as 24 horas do dia “foi sempre a nossa chave”, exclamou.

Acrescenta a receita. “A pior coisa é resignarmos. Não nos vamos resignar, vamos tentar desfrutar as oportunidades ao máximo. Os jogadores querem tirar proveito disto, são experiências de vida, já perceberam que é algo irrepetível que levam para a vida. Portanto, há que tirar o melhor das coisas. É o nosso enquadramento”, finalizou.

“Tudo é possível”

Fábio Conceição, 28 anos, é o jogador mais experiente da seleção de sevens. Começou aos 19 anos ainda debaixo da liderança de António Aguilar. “Quase 10 anos a jogar sevens”, contou. “No primeiro ano em que estive, saímos do circuito. Fomos eliminados e nunca mais voltámos”, relembrou.

Garantido o apuramento para Los Angeles, na hora de todas as decisões “tudo é possível com trabalho, com determinação”, retorquiu.

“As outras equipas olham para nós e acham que somos o alvo a abater e fácil. E não foi assim”, recordou, na esperança de voltar a surpreender. “Pesam-nos pelos tamanhos, somos mais novos e falta-nos barba também”, sorriu o veterano da comitiva.

Pega no trabalho que desenvolvem com selecionador, Frederico Sousa, e revela o que diferencia Portugal. “Fazemos muito a análise das outras equipas a defender e a atacar. Vemos muito isso. E depois, dentro de campo, tentamos reproduzir. Acho, que é uma das partes fundamentais do nosso jogo”, acrescentou.

Para a hora de todas as decisões é claro. “Não vamos estar agora a mudar grandes coisas ou a fazer coisas muito diferentes. É mantermos a nossa estrutura e aquilo que temos vindo a fazer ao longo deste tempo”, rematou.

Caixa: Modelo e horas dos jogos de Portugal

O primeiro jogo dos Lobos será no dia 3 de maio, às 19h50 (hora de Portugal Continental), frente à seleção norte-americana. O segundo encontro, acontece às 22h51 frente ao Quénia. A fase de grupos termina com o confronto frente à Samoa, no dia 4 de maio, às 19h50.

Portugal pode garantir o acesso direto à 2.ª Divisão do Circuito Mundial, se for uma das quatro melhores seleções no play-off. Para tal, precisa de vencer o Grupo A.

Caso Portugal vença o grupo ou termine no último lugar, o jogo frente à Samoa será o último da participação no torneio.

Se não vencer o grupo, a seleção portuguesa terá de terminar no segundo ou terceiro lugares e vencer, no domingo, uma eliminatória frente ao segundo ou terceiro do Grupo B (Irlanda, Uruguai, Alemanha e Canadá).

A partir de 2025-2026, a 1.ª Divisão das World Sevens Series reúne somente as oito seleções melhor classificadas no Circuito Mundial desta temporada, a terminar em Los Angeles, este fim de semana.

As quatro seleções do play-off melhor classificadas vão disputar a 2.ª Divisão, às quais se juntarão mais duas seleções qualificadas através do Challenger. Este circuito passa a torneio único com oito seleções apuradas por vias das competições regionais.

Ainda assim, as quatro melhores seleções da 2.ª Divisão das World Sevens Series em cada época juntam-se às oito da 1.ª Divisão para três finais globais, que irão determinar o campeão mundial de sevens em cada ano.

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