André Villas-Boas completa na quarta-feira o primeiro ano na presidência do FC Porto, cuja convulsão poderá levar à ausência do pódio da I Liga de futebol quase meio século depois, contexto nunca vivido pelo antecessor Pinto da Costa.
Empossado em 07 de maio de 2024, 10 dias depois da expressiva vitória eleitoral sobre o então dirigente planetário mais antigo e titulado da modalidade – que morreria em 15 de fevereiro de 2025, aos 87 anos -, o ex-treinador portista prometeu lutar por cada troféu e reconquistar o campeonato três épocas depois, mas, no terço final de 2024/25, assumiu atravessar um ano zero na reestruturação desportiva, financeira e institucional do clube.
Villas-Boas, que tinha vencido quatro provas em 2010/11, entre as quais a I Liga e a Liga Europa, último dos sete êxitos internacionais do FC Porto, demorou 19 dias para festejar nas novas funções, ao assistir ao lado do antecessor à conquista da Taça de Portugal da época anterior face ao Sporting (2-1, após tempo extra), no Estácio Nacional, em Oeiras.
Pinto da Costa somava a 69.ª e última conquista futebolística em 42 anos e 15 mandatos como líder máximo dos ‘dragões’, numa fase em que até tinha passado o testemunho no clube, mas ainda presidia à SAD, administradora da principal modalidade ‘azul e branca’.
A transição de poderes ficou totalmente consumada em 28 de maio e precipitou um novo capítulo no FC Porto, levando o treinador Sérgio Conceição – recordista de conquistas no banco do clube (11) e com contrato renovado pela anterior gestão a apenas dois dias do sufrágio -, a sair ao fim de sete épocas, antes da promoção do então adjunto Vítor Bruno.
Volvidas as acusações de traição e deslealdade entre técnicos com trajetos iguais nos 12 anos anteriores, o filho de Vítor Manuel começou a preparar a temporada 2024/25 com o espanhol Andoni Zubizarreta e o ex-defesa central e capitão dos ‘dragões’ Jorge Costa, diretores desportivo e do futebol profissional na estrutura de Villas-Boas, respetivamente.
A estreia absoluta como treinador principal foi auspiciosa, com o FC Porto a inverter três tentos de desvantagem frente ao Sporting (4-3, após 120 minutos) para arrebatar a 24.ª Supertaça Cândido de Oliveira do seu historial, em Aveiro, no arranque oficial da época.
Essa reviravolta prometia elevar a fasquia de uma equipa jovem, sem o central e capitão Pepe, cuja carreira acabou depois da eliminação de Portugal no Euro2024, e o ponta de lança iraniano Mehdi Taremi, seguindo-se a saída do avançado brasileiro Evanilson e a cedência aos italianos da Juventus do extremo Francisco Conceição, filho do ex-técnico.
Ao Dragão rumaram os defesas centrais Nehuén Pérez e Tiago Djaló, o lateral esquerdo Francisco Moura, o médio Fábio Vieira, de volta por cedência dos ingleses do Arsenal, e os dianteiros Deniz Gül e Samu, reforço mais caro da era André Villas-Boas – custou 15 milhões de euros (ME) por metade do passe -, e autor de 18 tentos até ao final de 2024.
O FC Porto teve duas chances para se isolar no topo da I Liga pela primeira vez desde o último título, mas perdeu fora com Sporting (2-0), na quarta jornada, e Nacional (2-0), na 17.ª, e atrasou-se em definitivo com uma derrota no terreno do Gil Vicente (3-1), na 18.ª, quebrando ainda mais a confiança entre plantel e Vítor Bruno, demitido em 20 de janeiro.
A transição interina ficou entregue ao diretor da formação ‘azul e branca’, José Tavares, quando a equipa estava arredada da Taça de Portugal, prova dominada nas últimas três épocas, ao perder na visita ao Moreirense (2-1) – não cedia na quarta eliminatória desde 2016/17 -, sendo ainda batida pelos ‘leões’ nas ‘meias’ da Taça da Liga (1-0), em Leiria.
Contratado aos mexicanos do Cruz Azul, dos quais saiu em litígio, o treinador argentino Martín Anselmi colocou logo os ‘dragões’ a jogarem com três centrais, mas perderia dois dos três atletas mais influentes perto do fim da janela de inverno: o médio espanhol Nico González, contratado pelos ingleses do Manchester City, e o extremo brasileiro Galeno, reforço dos sauditas do Al Ahli, com a SAD a arrecadar 110 ME para reequilibrar contas.
Os reforços William Gomes e Tomás Pérez não se afirmaram com Anselmi, que viu o FC Porto aceder ao play-off da Liga Europa, por entre cinco jogos sem vencer para a I Liga, sequência jamais vista desde 1981/82, temporada da primeira eleição de Pinto da Costa.
A eliminação ante os italianos da Roma (4-3 nas duas mãos) desfez o sonho europeu de Villas-Boas, crítico quanto ao pouco espírito à FC Porto num plantel desvalorizado, com exibições irregulares, relatos de indisciplina, relações tensas com as claques – sobretudo os Super Dragões, visados na Operação Pretoriano – e sem clássicos vencidos na I Liga.
Nesse histórico de três derrotas e um empate perante Benfica e Sporting ressaltam duas goleadas por 4-1 aplicadas pelas ‘águias’, que já não marcavam quatro tentos ao rival na prova desde 1964/65 e só tinham logrado tal feito no estádio ‘azul e branca’ em 1942/43.
O FC Porto não somava tantas derrotas para a I Liga (sete) desde 2015/16 e cedeu mais pontos num trimestre com Anselmi do que nos cinco meses prévios com Vítor Bruno (15 contra 14), chegando às duas rondas finais no terceiro posto, com os mesmos 65 pontos do Sporting de Braga e a uns inatingíveis 13 de Sporting e Benfica, numa altura marcada pelo virtuosismo de Rodrigo Mora, nova ‘coqueluche’ portista, que celebra hoje 18 anos.
Apurados para a Liga Europa de 2025/26 – diretamente ou através de pré-eliminatórias -, cenário que acarretará nova ausência da Liga dos Campeões e prémios menos atrativos, os ‘dragões’ tentam fechar o campeonato no pódio pela 49.ª edição seguida e minimizar as ondas de choque num ano inaugural desportivamente convulso de André Villas-Boas, hegemónico no ato eleitoral mais participado de sempre do clube, com 80,3% dos votos.