Reportagem – Não era dia de jogo, mas eles foram na mesma para voltar a gritar ‘Bicampeões’: foi assim a festa verde e branca na Praça do Município

O Sporting foi homenageado pela Câmara de Lisboa pela conquista do campeonato, mas Carlos Moedas foi vaiado pelos adeptos leoninos na Praça do Município.

Depois do Marquês de Pombal, foi a Praça do Município a ser pintada de verde e branco. Entre uma multidão composta por alguns milhares de adeptos sportinguistas, na praça, nas janelas ou nas janelas em redor, todos queriam ver a Taça do bicampeonato.

Muitos chegaram ainda muito antes da chegada do autocarro com os seus heróis. Ao SAPO Desporto, Joana Martins, de apenas 13 anos, confessou que não tinha conseguido ir à festa de sábado, por isso não queria perder a oportunidade de gritar ‘Bicampeões’ e ver a Taça.

“Não fui ao Marquês no sábado e fiquei com muita pena. Hoje já aqui estou há duas horas, para ficar na fila da frente e poder ver a Taça e aplaudir os jogadores por sermos bicampeões”, disse-nos, antes de confidenciar a sua paixão por Morten Hjulmand, capitão leonino.

Já o pai de Joana, Paulo Martins, de 40 anos, falou conosco sobre o facto de a filha ter já visto o Sporting ser campeão por três vezes, enquanto ele teve de esperar tanto tempo para ver o Sporting ser campeão pela primeira vez. “Passei muitos anos a ouvir que nunca tinha visto o Sporting ser campeão até ao título de 2000. Depois fomos em 2002 de novo. E depois, todos os outros já foram vividos também pela minha filha. Fico muito feliz por ela. Mostra que o Sporting está diferente”, sublinhou.

Nem uma gravata verde salvou Carlos Moedas

Como dita a tradição, os campeões foram então convidados pelo presidente da autarquia, mas o anfitrião não foi bem recebido pelos adeptos. Carlos Moedas foi vaiado pelos adeptos leoninos, descontentes pelas divergências entre o clube e o município sobre as limitações impostas aos festejos de sábado, antes e depois do jogo do Sporting com o Vitõria de Guimarães. E nem a gravata verde usada por Moedas – confesso adepto benfiquista – o salvou de ser apupado.

Só umas palavrinhas, meus amigos, só umas palavrinhas”, pediu, por entre os assobios. “Senhor presidente Frederico Varandas já vão três campeonato. É próprio da sua liderança. Caros jogadores, equipa técnica, desportistas, Lisboa é mais uma vez verde e branca. Que orgulho estar aqui convosco, ter esta praça coberta de verde e branco. Meus amigos, só para vos agradecer aquilo que têm feito, aquilo que inspiram. Obrigado por isso. Obrigado ao Sporting, que é tão grande como os maiores da Europa. Vocês provaram que o Sporting é das maiores instituições de todo o Mundo”, começou por dizer, sempre debaixo de assobios.

“Ao mister Rui Borges, que quando veio disse algo que nunca me esquecerei: ‘Que quando falte a inspiração, que não falta a atitude’, é isso que vocês têm: atitude. A vossa época foi isso. Foi atitude. Mesmo quando tudo parecia impossível. Mesmo quando o choque parecia insuperável. Mesmo quando as dúvidas se multiplicavam. Mesmo aí, nunca vos faltou atitude. A atitude que distinguem os campeões”, prosseugiu.

“Demonstraram, meus amigos, que no Sporting não há impossíveis. Essa foi a sua maneira de mostrar a atitude, foi uma época de superação. Foi uma época muito importante. Superaram lesões, tantas lesões. Acho que nunca um candidato ao título tinha sofrido tal desafio”, disse ainda, antes de terminar enumerando alguns momentos marcantes da época verde e branca.

“O minuto 93, aquele momento em que ele continuou a jogar. Sim, isso é liderança. Ele sabia que a equipa precisava dele e foi exatamente com essa paixão. Aquele hat trick do Gyokeres contra o City, foi essa paixão. Aqueles dois golos do Harder, no final daquele jogo épico. E o Trincão com a mão partida e a continuar a jogar. Alguns dos momentos onde a vossa paixão esteve lá e fez a diferença. Viva o Sporting, viva aquilo que conquistaram. Viva a glória daquilo que esperaram tantos anos desde 1954. Mais de 70 anos. Foi difícil? Foi. Foi doloroso? Foi. Exigiu muito suor e muitas lágrimas? Sem dúvida. Mas quando, como alguém disse, não há caminhos de flores que conduzam à glória. Esta equipa foi prova disso, sr. presidente hoje são bicampeões”, terminou.

Varandas lembrou Amorim, mas destacou Rui Borges. Falou das lesões, elogiou o Benfica e já apontou ao ‘tri’

Seguiu-se o seu discurso, Frederico Varandas, que não se coibiu também de tecer algumas considerações sobre o tema dos festejos condicionados.

“A primeira palavra vai para os adeptos do Sporting. Obrigado por terem lutado connosco lado a lado, no estádio, na estrada, nas ruas. Acreditaram até ao fim. Sobre a festa… Meu Deus, que festa. E que lição numa festa linda… Foram bicampeões a saber festejar”, vincou.

De seguida, Frederico Varandas falou do “grande rival”, Benfica, aplaudindo-se pela intensa até ao último jogo.

“As minhas segundas palavras vão para o nosso rival. Que luta que foi! Foram um digno vencido e valorizaram muito a nossa conquista. Não venceram, mas não deixaram de fazer um grande campeonato. Honra ao nosso grande rival”, atirou, com assobios dos adeptos às águias pelo meio.

Depois, o presidente dos leões lembrou Amorim, João Pereira, Hugo Viana, mas destacou os que agora estavam ali e o que alcançaram. “Falando agora internamente para o nosso Sporting. A quem não está aqui hoje. Ruben Amorim, Hugo Viana e João Pereira também são campeões. Obrigado pelo contributo para que estivéssemos aqui. Mas o grande destaque vai para os que aqui estão. Quem está aqui? O bicampeão, meus senhores. Algo que já não acontecia há 71 anos. É verdade que não tínhamos maior orçamento ou investimento, mas fomos quem mais pontou. Fomos o melhor ataque, a melhor defesa e liderámos durante 30 jornadas. Tivemos o melhor marcador. Tivemos o melhor jogador da Liga. Há dúvidas?”, questionou.

Despedida ao som do “Mundo Sabe que” e promessa de mais festa no Jamor

Os jogadores, que antes já tinham subido à varanda dos Paços do Concelho para exibirem o troféu e saudarem os adeptos, despediram-se então, entre muitos aplausos e muita euforia. Antes de partirem, claro, houve tempo para o sempre arrepiante “O Mundo Sabe Que”, cantado por jogadores, staff e adeptos, acompanhados pela fadista Katia Guerreiro.

E foi o fim de uma festa que, entre a chegada e a partida do autocarro, não durou mais do que uma hora. Percebe-se. A época ainda não acabou e há ainda um troféu para ganhar, no domingo, frente ao rival Benfica, esperam os adeptos, como nos disse Paulo Rocha, já meio rouco dos cânticos que foi entoando ao longo da tarde. “Domingo há mais festa! Melhor do que o bi, só o bi com dobradinha”. Como diria Ruben Amorim, vamos ver…

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