Despromoção penaliza Boavista de altos e baixos desde inédito título em 2000/01

A descida à II Liga de futebol penalizou hoje a irregularidade do Boavista desde o inédito título de campeão nacional em 2000/01, agravada pelas seis temporadas passadas nos escalões secundários, devido ao processo judicial Apito Final.

Quarto clube português com mais troféus de âmbito nacional no futebol sénior masculino (11) e integrantes do quinteto de campeões lusos, as ‘panteras’ estavam há 11 anos na I Liga, mas foram crescendo em convulsão interna, potenciada por problemas financeiros, estruturais e de competitividade, e não tiveram a pujança das quatro décadas anteriores.

Depois de cinco Taças de Portugal, três Supertaças Cândido de Oliveira e dois títulos da então denominada II Divisão, a viragem do século havia rendido o único campeonato do Boavista, que se juntou ao Belenenses (1945/46) nas exceções à primazia dos ‘grandes’, potenciado pela influência da família Loureiro e pelas regulares idas às provas europeias.

A par do seu auge em 121 anos de existência, o clube portuense remodelou o Estádio do Bessa e assumiu a maioria dos 45,4 milhões de euros (ME) de gastos dessa empreitada, estreada em dezembro de 2003, a meio ano do Europeu de 2004, realizado em Portugal.

Incapaz de se manter competitivo perante esses condicionalismos financeiros, o Boavista nunca mais conquistaria troféus e esteve pela última vez nas competições europeias em 2002/03 – quando ficou arredado pelos escoceses do Celtic da final da então Taça UEFA, vencida pelo rival citadino FC Porto -, antes de entrar numa trajetória de gradual declínio.

Depois de seis presenças no pódio do escalão principal e 19 participações internacionais, as ‘panteras’ passaram a constar da zona intermédia da classificação até 2007/08, época na qual foram despromovidas administrativamente à II Liga, por alegada coação sobre as equipas de arbitragem, no âmbito do Apito Final, processo que derivou do Apito Dourado.

Essa punição da Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) afastava o Boavista da elite ao fim de 39 anos, com o 15.º e penúltimo lugar na II Liga da campanha seguinte a ditar nova queda, desta vez no relvado, ao futebol não profissional.

Em virtude da despromoção encarada pelo Vizela na secretaria em 2008/09, por alegada corrupção, na sequência de decisões relacionadas com o Apito Dourado, os portuenses ainda foram convidados a jogar na II Liga em 2009/10, mas não obtiveram licenciamento.

Por entre a travessia de cinco épocas no terceiro escalão, que agudizou problemas, mas não demoveu a proximidade de sócios e adeptos, o clube recorreu e assistiu ao regresso de João Loureiro, que já tinha sido presidente de 1997 a 2007, em sucessão do seu pai, Valentim, e fora suspenso das atividades desportivas por quatro anos face ao Apito Final.

Em fevereiro de 2013, o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) daria como provada a prescrição do processo disciplinar que ditou a descida do Boavista em maio de 2008 e ordenou o respetivo arquivamento, sem analisar o mérito do mesmo.

As ‘panteras’ requereram junto da LPFP a sua reintegração na I Liga, que seria aprovada pela Comissão Executiva do organismo em abril de 2014 e, após protocolo assinado com a FPF, fez com que essa prova fosse expandida de 16 clubes para o atual formato de 18.

De uma assentada, o Boavista trepava dois escalões para ressurgir na elite em 2014/15, mas permanecia afetado por amarras financeiras e fez da permanência a principal meta, alcançada com sofrimento em 2015/16, 2020/21 e 2022/23, por oposição à tranquilidade observada nos oitavos lugares de 2017/18 e 2018/19 e nos nonos de 2016/17 e 2022/23.

As últimas cinco temporadas foram cumpridas sob intervenção do hispano-luxemburguês Gérard Lopez, que assumiu em 2020 o controlo maioritário da SAD, gestora do futebol profissional ‘axadrezado’, e foi encarado pelo então presidente Vítor Murta – sucessor de João Loureiro de 2018 a 2025 -, como uma solução crucial para a subsistência do clube.

Apesar dessa injeção de capital, da indemnização da FPF por danos resultantes do Apito Final e da solicitação do Processo Especial de Revitalização (PER), o Boavista tem uma lista provisória de 239 credores e cerca de 166 ME de dívidas reconhecidas, incluindo ao Estado, a ex-atletas, treinadores ou funcionários e a entidades envolvidas na reforma do estádio, mesmo nunca tendo reprovado no licenciamento anual para as provas da LPFP.

Notícias sobre salários em atraso, processos na justiça ou impedimentos de inscrição de novos jogadores tornaram-se recorrentes no segundo maior clube do Porto, com reflexos na instabilidade diretiva e técnica, no enfraquecimento do plantel sénior e na decadência das camadas jovens, outrora espaço de projeção de internacionais portugueses de vulto.

A um dia do 24.º aniversário do título de 2000/01, o Boavista, nono com mais presenças (62) e oitavo em jogos (1.908) na história da elite, foi despromovido ao segundo escalão, no qual competiu por mais de 30 temporadas entre as décadas de 1930 e 1960, antes de granjear reputação dentro do país e além-fronteiras com as camisolas aos quadradinhos.

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