Domingos Soares de Oliveira nega qualquer envolvimento no processo ‘Saco azul’

O ex-diretor executivo (CEO) do Benfica Domingos Soares de Oliveira rejeitou hoje ter conhecido ou participado de um alegado “plano entre Luís Filipe Vieira e Miguel Moreira” para a realização de pagamentos fictícios por parte do clube lisboeta.

Domingos Soares de Oliveira, que respondeu como arguido no julgamento do processo ‘Saco azul’, no Tribunal Central Criminal de Lisboa, disse que nunca assistiu “a nada de especial” entre o antigo presidente do Benfica e o ex-diretor financeiro e administrador da SAD ‘encarnada’.

“Não tenho conhecimento de nenhum plano entre Luís Filipe Vieira e Miguel Moreira [ambos também arguidos no processo]. Relativamente à acusação de que tomei conhecimento e aderi a esse plano é absolutamente falsa”, afirmou o atual administrador da SAD do Al-Ittihad, campeão de futebol da Arábia Saudita.

O gestor, de 65 anos, disse também desconhecer a empresa de serviços informáticos Questãoflexível – que a acusação alega ser o veículo do esquema de pagamentos fictícios do Benfica, com vista à reentrada da maior parte dinheiro, em numerário, no clube -, e o seu proprietário, o empresário José Bernardes.

A assinatura de Domingos Soares de Oliveira consta dos contratos para a prestação de serviços de âmbito informático, mas o antigo dirigente benfiquista alegou que, dado o número elevado que chegava diariamente a sua secretária, desconhecia a “substância” da maioria.

“Devo ter assinado, em média, 20 contratos por dia. Assinei milhares de contratos nos 20 anos em que estive no Benfica. Há contratos que merecem mais intervenção e há outros, mais operacionais, em que não entrava nos detalhes”, explicou.

No caso do contrato com a Questãoflexível, o gestor afirmou que só se inteirou do seu conteúdo depois das buscas da Polícia Judiciária no Estádio da Luz, tendo pedido esclarecimentos a Miguel Moreira, que tinha “plenos poderes para fazer essa negociação” contratual.

Domingos Soares de Oliveira argumentou que as operações no Benfica em dinheiro vivo, como a bilhética, representam um valor irrisório no volume de negócios e que nunca viu no clube “sacos ou cofres”, assegurando que “se fosse confrontado com uma situação dessas, obviamente, não pactuaria”.

O antigo CEO das ‘águias’ preferiu não se pronunciar sobre a existência de uma eventual sobreposição dos serviços informáticos que já eram prestados ao clube e defendeu que o valor mensal aproximado de 22.000 euros pagos à Questãoflexível é “absolutamente razoável”.

Domingos Soares de Oliveira justificou que os serviços de alta disponibilidade (apoio permanente) e arquitetura de sistemas são muito dispendiosos, o que é agravado pela “escassez de recursos informáticos em Portugal” nesta área, obrigando muitas vezes ao recrutamento de trabalhadores no estrangeiro.

De acordo com a acusação, a Questãoflexível tinha apenas dois intervenientes, José Bernardes e mulher, com formação em contabilidade, mas o ex-dirigente do Benfica disse não poder pronunciar-se sobre a competência da empresa, pois desconhece, “ainda hoje, quais são as capacidades técnicas de José Bernardes”.

“No entanto, há pessoas que são geniais do ponto de vista informático e que não têm qualquer tipo de formação informática. Trabalhei com vários casos desses”, observou Domingos Soares de Oliveira, o último arguido a depor em julgamento.

Neste processo, que começou a ser julgado em abril no Juízo Central Criminal de Lisboa, está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível, num valor que ultrapassa 1,8 milhões de euros.

De acordo com a acusação, confirmada em junho do ano passado por um juiz de instrução, o ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira é suspeito de três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documento, assim como Domingos Soares de Oliveira, antigo administrador, e o ex-diretor financeiro do clube Miguel Moreira.

Os mesmos crimes são também imputados em coautoria com a empresa Questãoflexível, da qual é proprietário o empresário José Bernardes, que vai responder também pelo crime de branqueamento de capitais.

Num processo no qual são também arguidos Paulo Silva e José Raposo, a Benfica SAD está acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento.

Artigos Relacionados