Entrevista – Alexandre Ribeiro à conquista da Finlândia: “Não foi por falta de convites que não estou a trabalhar em Portugal”

Alexandre Ribeiro voltou a pegar nas malas e aventurar-se no estrangeiro pela segunda vez na carreira, depois de uma passagem pelo Sagrada Esperança de Angola, interrompendo assim uma pausa de ano e meio em que esteve longe dos relvados.

O treinador de 46 anos é, desde o início de 2025, o comandante do Kokkolan PV (também conhecido como KPV), clube que milita na Segunda Divisão da Finlândia. Para já, vai a meio da tabela, no 6.º posto entre 12 equipas (está a dois do 2.º colocado e a cinco do líder), faltando quatro rondas para esta primeira fase.

Os seis primeiros vão lugar pela promoção à elite do futebol finlandês. Nos 18 jogos disputados, soma 27 pontos: oito vitórias, três empates, sete derrotas, 30 golos marcados e 30 sofridos.

Natural de Vila Nova de Gaia, Alexandre Ribeiro conta já com uma carreira longa, que começou nos escalões de formação do Oliveira do Douro em 2002, como preparador físico, função que desempenhou em emblemas como SC Covilhã, GD Chaves e União de Leiria. Como treinador, comandou o Oliveira do Douro, o Valadares Gaia, a AD Oliveirense, o Salgueiros, o Cinfães, o Anadia e o São João Ver, estes dois últimos na Liga 3.

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Em 2009/2010 trabalhou no departamento de scouting do FC Porto, com Jesualdo Ferreira.

Em entrevista à Sportinforma, Alexandre Ribeiro contou que recusou convites da Liga 3 para agarrar esta aventura na Finlândia e mostrar serviço. As saudades de Portugal são naturais, mas ter a família consigo, na cidade costeira de Kokkola, ajuda na adaptação.

Sportinforma: O que o levou a emigrar, desta vez para a Finlândia?

Alexandre Ribeiro: “O que me fez emigrar para a Finlândia foi a possibilidade de entrar num mercado que acho bastante aliciante e competitivo como o escandinavo. Penso que é um mercado onde muita gente está atenta e que, fazendo um bom trabalho, o impacto na minha carreira poderá ser muito positivo.”

Tinha a possibilidade de continuar na Liga 3 e optei por vir, conta Alexandre Ribeiro

Sportinforma: O que tem a dizer sobre o nível da Segunda Liga finlandesa? Os jogadores estrangeiros fazem a diferença?

Alexandre Ribeiro: “O nível da divisão onde estou é razoável, mas as equipas são muito niveladas o que permite jogos bastante competitivos, onde o resultado final é sempre muito incerto.”

Sportinforma: Falou com algum treinador português que tenha estado ou está na Finlândia, como o caso do Ricardo Duarte, que leva seis anos naquele país, antes de aceitar o convite?

Alexandre Ribeiro: “Sim, antes de vir falei com o anterior treinador do KPV, Gonçalo Pereira, que também é português, e conversei com alguns jogadores portugueses que aqui estão, para tentar perceber o contexto desportivo que iria encontrar e para perceber a cultura da Finlândia em relação ao futebol.”

Sportinforma: O que lhe foi proposto pela direção do clube e o que lhe pediram?

Alexandre Ribeiro: “Inicialmente, o que me foi pedido foi tentar estar na fase final de subida e, depois de lá estar, fazer o melhor possível. Atualmente o clube está numa fase de mudança, mas felizmente continuamos na luta por essa fase final.”

Sportinforma: A nível de resultados, como analisa o seu trabalho? Cometeu a proza de eliminar da Taça o FC KTP, equipa da Primeira Divisão, mas está fora do pódio, apesar de estar perto? Acredita que a equipa tem o que é preciso para atingir os objetivos?

Onde é mais difícil a adaptação talvez seja em relação à alimentação, assegura

Alexandre Ribeiro: “Sim, a nossa performance na Taça foi elogiada por todos aqui na Finlândia. A nível de campeonato estamos nessa luta pela fase final e, tal como disse antes, o nível das equipas é bastante equilibrado e esta reta final vai ser muito importante.”

Sportinforma: Esta etapa pode ser vista como um passo atrás na carreira? Terá sido um passo atrás para dar dois à frente?

Alexandre Ribeiro: “Sim, eu acredito que a minha saída para este campeonato vai servir para poder dar alguns passos em frente, até porque eu tinha a possibilidade de continuar na Liga 3 e optei por vir. Não foi por falta de convites que não estou a trabalhar em Portugal, mas neste momento este desafio fez-me sentir bastante motivado e por isso aceitei.”

Sportinforma: É mais um treinador português que tem de emigrar para continuar a fazer o que mais gosta e mostrar o seu trabalho. Está difícil treinar em Portugal? Reconhece que o mercado está saturado?

Alexandre Ribeiro: “O mercado na Segunda Liga e na Primeira Liga são mercados muito difíceis para se ter uma oportunidade. E, como nesta fase da minha carreira quero estar nesses níveis, tive de procurar outros sítios que me proporcionem lutar por títulos e por objetivos ambiciosos.”

Sportinforma: Como está a ser a sua adaptação à Finlândia? Aos hábitos e à cultura do país?

Alexandre Ribeiro: “A adaptação à Finlândia tem sido fácil, existe uma opinião pré-definida de que os escandinavos são frios e pouco sociáveis, mas entrando no ciclo de convívio deles são bastante simpáticos. Onde é mais difícil a adaptação talvez seja em relação à alimentação, mas isso acontece em qualquer país.”

Sportinforma: Como faz para ‘matar’ as saudades de Portugal?

Alexandre Ribeiro: “As saudades estão sempre presentes, mas tenho a felicidade de, regularmente, ter a família comigo aqui, e de aproveitar as paragens no campeonato para poder regularmente ir a Portugal.”

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