A participação dos judocas portugueses nos Mundiais de Budapeste não está em risco, competição na qual os seis judocas lusos podem ter de competir sem a bandeira portuguesa, disse hoje à agência Lusa o presidente da Federação.
“Desde a primeira hora que os atletas estão salvaguardados de todo este problema. A única situação que pode ocorrer é terem de participar sob a égide da FIJ [Federação Internacional de Judo], com os dorsais da FIJ. Com a certeza de que vamos ter medalhados e campeões do mundo e o hino também será o da FIJ. Esta será uma penalização caso não se consiga reverter isto e que irá durar um ano”, disse à Lusa Sérgio Pina.
Estão apurados para os Mundiais, que decorrerão entre 13 e 18 de junho em Budapeste, os judocas lusos Catarina Costa, Taís Pina, Patrícia Sampaio, Miguel Gago, Otari Kvantidze e Jorge Fonseca.
O cenário surge depois de a Federação Portuguesa de Judo ter sido notificada na terça-feira da suspensão por um ano pelo organismo internacional da modalidade, devido a uma dívida de 800.000 euros.
Em vários momentos, a Federação Internacional notificou a FPJ, que ainda tentou proceder a um pagamento simbólico de 50.000 euros, mas um erro no código de transferência bancária, acabou por levar a decisão mais extremada da instância do judo mundial.
A situação levou a FPJ a estabelecer contactos imediatos com o presidente do Instituto Português do Desporto (IPDJ), Ricardo Gonçalves.
“Ontem [terça-feira], falei com o IPDJ, irão ser conversas que, garantidamente, serão retomadas, assim como pedi ajuda a Fernando Gomes, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e já falei e irei continuar a falar com o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, no intuito, se não for a totalidade, mas pelo menos que haja um apoio, para que, se for possível, possamos definir um plano de pagamento com a Federação Internacional de Judo. Se não for possível na totalidade, que haja algum valor com que se possa fazer isso”, disse ainda à Lusa Sérgio Pina.
O dirigente enquadrou que foram conversas breves, na tentativa de explicar a situação em que a FPJ se encontra, e que hoje pensa que conseguirá falar melhor sobre o assunto.
Na decisão disciplinar da FIJ a que a Lusa teve acesso, o organismo internacional detalha o histórico da dívida, que ascende a 800.000 euros e que engloba a contratualização de dois dos quatro Grand Prix que Portugal (2023 e 2024) tinha feito, no valor de 500.00 euros, acrescidos de uma verba de 300.000 euros referente aos Mundiais de juniores de 2023.
Na sua decisão, a FIJ lembra que “uma Federação membro cujas taxas de adesão ou quaisquer outras taxas, ‘royalties’ ou dívidas para a IJF ou União Continental à qual pertence não forem pagas até 31 de maio de cada ano, não será autorizada a participar nos Jogos Olímpicos, campeonatos mundiais ou qualquer outro evento realizado sob os auspícios da IJF”.
Na decisão, a Federação Internacional esclarece os avisos sucessivos à FPJ em relação aos valores em dívida, em fevereiro, março e abril, junto com a carta enviada por Sérgio Pina ao organismo, com o enquadramento de dificuldades financeiras no judo nacional.
O presidente da FPJ explicou que a Federação depende exclusivamente de um apoio estatal, na ordem dos 1,2 milhões de euros anuais.
“O orçamento da FPJ depende exclusivamente do apoio estatal, e o montante anual não ultrapassa os 1,2 milhões de euros, que são necessariamente canalizados para as suas atividades, o que torna impossível para a FPJ pagar a sua dívida com a IJF sem apoio extra das instituições estatais”, indica a Federação Internacional na defesa que lhe foi apresentada pela FPJ.
Na mesma carta, Pina lembrou as eleições no organismo em outubro do último ano, após os Jogos Olímpicos de Paris2024, e que a esperança na resolução do problema teve ainda a circunstância de eleições legislativas em Portugal, em 18 de maio, que acabaram por dificultar esse reforço de um apoio financeiro.
“Esta circunstância tem condicionado fortemente os processos de tomada de decisão e concessão de apoio às federações desportivas, uma situação que acreditamos será resolvida em breve, logo após as eleições, se não antes”, disse então o presidente da FPJ à Federação Internacional.
Posteriormente, a FIJ deu um prazo até 13 de maio à Federação Portuguesa, que, ainda sem um reforço de apoio estatal, procurou transferir 50.000 euros, que o organismo internacional não recebeu.