A viver uma paragem forçada devido a lesão, Kika Nazareth continua a dar passos firmes rumo à recuperação. Ainda sem certezas quanto ao tempo de regresso, a internacional portuguesa não fecha totalmente a porta ao Europeu, apesar de manter os pés bem assentes no chão. Recorde-se que a jogadora sofreu uma rotura no ligamento lateral interno do tornozelo esquerdo e foi alvo de uma cirurgia.
“Eu ainda não sou fisioterapeuta”, atirou, entre sorrisos, durante a apresentação do torneio Red Bull Four2Score, esta quinta-feira. “Gosto de pensar as coisas devagar e tenho lidado com esta lesão um dia de cada vez”, referiu ainda.
E, mesmo não querendo alimentar expectativas, a esperança insiste em não desaparecer: “Ainda que eu não queira, porque também me conheço e quando criamos expectativas e depois as coisas não acontecem, a queda é sempre mais feia… Mas há sempre uma pontinha de esperança. Eu gostava mesmo de não a ter, mas está aí.”
Sem a bota protetora que a acompanhou durante seis semanas, Kika já celebra pequenas vitórias que tornam os dias mais leves. “São essas pequenas coisas que ajudam. Já me sinto uma pessoa”, brinca. “Estar ali com um pedaço sabe-se lá do quê no pé… Era isso que me afastava do relvado e da equipa. Agora sinto-me um bocadinho mais livre, ainda longe da bola, mas mais próxima”, referiu.
A ausência dos relvados, admitiu, tem sido das fases mais duras da sua carreira. “É a pior coisa que pode acontecer na vida de qualquer atleta: não podermos fazer aquilo que mais gostamos. Mas é preciso saber dar a volta. O primeiro passo é aceitar — e eu já o fiz. Agora é ter paciência, que não liga muito comigo, mas aprende-se sempre alguma coisinha”, garantiu também.
Apesar da distância física, Kika continua ligada ao que a move: “Hoje estou a pisar um relvado e isso faz-me estar mais perto daquilo que me faz feliz: o futebol.”
Radicada em Barcelona, onde representa o clube catalão, a jovem portuguesa sente ainda o peso da distância: “Isto faz-me voltar um bocadinho a casa, o que é ótimo, mas não deixo de ser uma imigrante, ainda que esteja muito perto. Há dias bons, há dias muito bons, e há dias menos bons. Custa, não é fácil.”
Sem poder jogar, vive agora os grandes momentos do Barcelona à distância. O clube está a um passo de conquistar a Liga espanhola e volta a sonhar com a Liga dos Campeões. “Torcer de fora, não. Torcer dentro — mas sem jogar. Eu faço parte disto. Às vezes penso: ‘Posso ser campeã europeia assim de um dia para o outro?’ Mas sim, sempre a torcer. É impressionante o que o Barcelona tem feito e poder fazer parte de mais uma página é também um sentimento de responsabilidade”, confessou.
E se o fim de semana promete emoções fortes com o título espanhol à vista, em Lisboa também há motivos para sonhar. No Estádio da Luz, o Benfica pode conquistar o campeonato, e Kika promete estar atenta: “Acredito que sim, estarei a torcer efusivamente. Já estive a fazer toda a gestão… Viajo com a equipa para Sevilha ao final do dia, portanto dá tempo.”
Entre dois clubes, duas cidades e duas equipas do coração, Kika Nazareth continua a ser parte da história — mesmo que, por agora, o papel se escreva fora das quatro linhas.