Memes da Bola: Em noite de homenagem, o Dragão faz descolagem

O mês de Agosto no Dragão é aquela altura especial do ano, em que a cidade se enche de gente que, em vez de dizer “vou ao jogo”, diz, “je vais au match”. É o mês em que os supermercados vendem mais Super Bock por metro cúbico do que água, e em que nas bancadas se ouvem mais histórias sobre estradas na Suíça do que táticas de futebol. É o mês dos emigrantes.

Tal como manda a tradição, os emigrantes vieram ver o FC Porto. Chegaram cedo, camisolas do clube vestidas por cima de casacos ‘North Face’, cachecóis que já viram mais invernos que o André Villas Boas, e aquela excitação de quem vai matar saudades da terra e da equipa.

Há sempre aquele tio que vem do Luxemburgo, ainda com o relógio no fuso errado, e que passa o jogo todo a gritar “allez Porto!” como se estivesse na Ligue 1.

Ontem, na receção ao Vitória de Guimarães, havia momentos em que parecia mais fácil comprar uma baguete no bar do estádio do que uma bifana.

O aquecimento foi mais concerto que preparação física. Música alta, cânticos e um cheirinho no ar que podia ser castanhas assadas, mas era culpa da feijoada do almoço. Entre selfies, vídeos para mandar no WhatsApp para o grupo ‘Família Portugal’ e debates sobre qual é a melhor rotunda de França, o estádio foi enchendo.

Até que chegou o momento mais sério da noite: a homenagem a Jorge Costa. Silêncio absoluto. Até aquele primo que estava no terceiro fino parou para ouvir. O ‘Capitão’ mereceu e teve um aplauso sentido, daqueles que começam devagar e acabam a estremecer as cadeiras até chegar ao céu. No Dragão, o respeito ainda é lei.

Quando o António Nobre apitou para o início, deu para perceber que este FC Porto é praticamente uma casa renovada. Se a época passada era um T2 com infiltrações e móveis herdados, agora temos open space, luz natural e uma cozinha IKEA ainda a cheirar a novo.

O onze parecia saído de um episódio do ‘Querido, mudei a equipa’, gente nova por todo o lado, ideias frescas e uma energia que se notou logo nos primeiros minutos. O Vitória, por sua vez, entrou com aquele ar de quem foi convidado para jantar, mas não sabia que era um jantar formal e isso ficou claro na sua linha defensiva.

O alinhamento defensivo do Vitória dava para tudo, menos para defender. Estava tão torto que parecia corda de roupa com molas a ceder. A cada ataque do Porto, via-se um buraco diferente e o Farioli de sorriso no cara a ver o adversário arder.

Não foi preciso muito para os dragões começarem a sentir o cheiro do golo.

Primeiro veio um par de ameaças, cruzamentos e remates com abundância, até que num contra-ataque muito rápido, estilo Sonic, a bola caiu nos pés de Pepê, que tal como a equipa, está também ele renovado e fez o 1-0.

Depois do golo sofrido, o Vitória tentou subir linhas, mas a sua defesa parecia ter recebido um e-mail de phishing e clicavam sempre no link errado. Tentaram explorar as costas de Alberto Costa, mas Bednarek e Perez (o Marcano renovado, versão low carb) cortaram quase tudo.

Na bancada, já se comentava: “Isto está a pedir o segundo”. E estava mesmo.

O segundo veio aos 32 minutos e veio com nota artística. Belo cruzamento de Alberto Costa e Samu no 2.º andar a fuzilar de cabeça a baliza à guarda de Charles.

2-0 no Dragão, o estádio a cantar e o imigrante brasileiro que veio pela primeira vez a um estádio em Portugal a mandar mensagens de áudio de dois minutos para a tia do Ceará, descrevendo o golo como se fosse rádio.

O Vitória voltou do intervalo com uma defesa ligeiramente mais composta e lá se foi aguentando como uma pessoa normal, hoje em dia vai aguentando com o ordenado, mas eis que chega o fim do mês…e o fim do mês no Dragão tem um nome:

SAMU

O avançado espanhol aproveitou uma defesa incompleta de Charles e bisa na partida. SAMU, neste momento em que vivemos, é bem capaz de ser o único refugiado em Portugal que o pessoal não quer que volte para casa.

Os azuis e brancos ainda ameaçaram o quarto golo mas o resultado não se alterou.

Jorge Costa esteja onde estiver, estará feliz com a homenagem de ontem e fica a ideia que o chicote vai estalar depressa em Guimarães.

Viva o futebol.

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