Novo Mundial de Clubes pode ter impacto profundo no futebol. Vitinha poderá fazer 67 jogos em 2024/25

O novo Mundial de Clubes alargado da FIFA, que arranca este fim de semana nos Estados Unidos, é uma adição controversa ao calendário global do futebol e poderá ter um impacto profundo na modalidade nos próximos anos.

O torneio com 32 equipas, que oferece mil milhões de dólares em prémios monetários, foi encaixado num calendário já sobrecarregado, levantando preocupações de que poderá levar os jogadores de elite ao limite.

Também ameaça desequilibrar as competições nacionais e continentais de clubes, ao conceder vantagens financeiras enormes às equipas participantes em relação aos seus rivais.

Basta olhar para os principais clubes da Europa, que enviam 12 equipas, incluindo os vencedores da Liga dos Campeões: Paris Saint-Germain, Real Madrid, Manchester City e Chelsea.

É altamente provável que algumas dessas equipas cheguem longe no torneio, podendo disputar até sete jogos até à final de 13 de julho.

Os valores em jogo são extraordinários — até 125 milhões de dólares (109,4 milhões de euros) para a equipa europeia com melhor desempenho.

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“O modelo do Mundial de Clubes afeta o ecossistema das ligas nacionais, especialmente na Europa”, afirmou Javier Tebas, presidente da La Liga espanhola, à rádio ‘Cadena Cope’.

Mas enquanto clubes como o Liverpool e o Barcelona não estarão presentes nos Estados Unidos e, por isso, perderão os prémios monetários, terão a vantagem de poder dar descanso aos jogadores.

“Acho que terá um impacto enorme e dará uma vantagem significativa ao Liverpool e ao Arsenal na próxima época por não estarem lá”, comentou o selecionador inglês Thomas Tuchel, questionado sobre as consequências para a Premier League.

Quantias astronómicas para os mais pobres

Estes clubes já estão entre os mais ricos do mundo, mesmo sem contar com as quantias agora oferecidas pela FIFA. Mas e os clubes de outras regiões?

Tornar-se-á ainda mais difícil para equipas da África do Sul competirem com o Mamelodi Sundowns, que sairá do torneio com um mínimo garantido de quase 10 milhões de dólares — o equivalente aos prémios de nove títulos nacionais na liga sul-africana

Os amadores do Auckland City, que já dominam na Oceânia, receberão 3,5 milhões de dólares só pelo simples facto de participarem.

Mas se, para esses jogadores, participar neste torneio for o ponto alto de uma carreira, para os atletas dos grandes clubes representa apenas mais exigência física e mental.

A introdução desta competição foi recebida com oposição na Europa, e o sindicato global dos jogadores, FIFPro, alertou que o bem-estar de muitos dos seus membros está a ser posto em risco devido à carga excessiva de jogos.

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Demasiados jogos?

O médio português Vitinha já disputou 52 jogos pelo PSG esta temporada, incluindo a final da Liga dos Campeões frente ao Inter de Milão, no dia 31 de maio. Além disso, participou em oito jogos por Portugal, incluindo a fase final da Liga das Nações na semana passada, ganha pela Seleção Nacional diante da Espanha nas grandes penalidades.

Agora segue para os Estados Unidos com o PSG, potencialmente sem férias até meados de julho. Se o PSG for à final e disputar os sete jogos, Vitinha terminará a época com 67 jogos nas pernas.

A próxima época francesa começa em meados de agosto, tal como a Premier League e La Liga. E no final da próxima temporada, Vitinha deverá regressar à América do Norte com Portugal para o Mundial alargado a 48 seleções.

Este nível de exigência sobre os principais jogadores levou os sindicatos europeus, no ano passado, a considerar uma possível greve para reduzir o número de jogos.

“O problema é a acumulação de épocas longas e intensas, umas atrás das outras. Os jogadores não pensam só no verão. Pensam em como não vão ter férias num futuro próximo”, afirmou Maheta Molango, diretor executivo da Associação de Futebolistas Profissionais de Inglaterra.

Entretanto, as ligas nacionais não veem razão para alterarem os seus calendários para acomodar o novo torneio da FIFA.

“As organizações internacionais, especialmente a FIFA, aumentaram o número de jogos que organizam, e agora temos um calendário que ultrapassou os limites da saturação”, disse Mathieu Moreuil, representante da Premier League.

Outras competições também estão a ser desvalorizadas devido à realização simultânea do Mundial de Clubes, como é o caso da Gold Cup da CONCACAF, que também se disputa nos Estados Unidos, ou o o Europeu de sub-21.

O selecionador dos EUA, Mauricio Pochettino, não pode contar com jogadores importantes como Weston McKennie e Timothy Weah, que estão no Mundial de Clubes ao serviço da Juventus e não vão jogar a Gold Cup da CONCACAF.

“É a situação que temos e temos de nos adaptar”, disse Pochettino, antigo treinador do PSG, que talvez discorde da opinião de Luis Enrique, atual técnico da equipa francesa.

“Acho que é uma competição incrível”, comentou Enrique ao antecipar o torneio.

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