Opinião: Gyökeres, o Arsenal e uma novela completamente desnecessária

Finalmente terminou a novela: Viktor Gyökeres já é jogador do Arsenal. Não pretendo alongar-me em relação aos valores envolvidos na operação, que, confesso, cheguei a pensar que poderiam ser superiores, embora perceba que não fosse fácil vender um jogador de 27 anos fora das chamadas ‘Big’ 5 – ou as cinco principais ligas, como quiserem chamar – por uma quantia muito mais alta do que os mais de 65 milhões de euros fixos que os ingleses pagaram, num negócio que ainda pode ascender até um máximo de 76 milhões.

No entanto, o que pretendo destacar relativamente à transferência de Gyökeres não são os números negociados entre o Arsenal e o Sporting, mas sim a forma como todo este processo se desenvolveu ao longo das últimas semanas. Da parte dos leões, falou-se numa suposta promessa de venda por determinados valores que não terá sido cumprida, mas que Frederico Varandas garantiu publicamente nunca ter sido feita. Relativamente ao jogador, há algo mais concreto que pode ser criticado: Gyökeres faltou, tanto quanto se sabe sem justificação, a vários dias de trabalho num clube com o qual ainda tinha contrato. Enquanto os seus colegas de equipa treinavam e participavam nos habituais jogos de pré-temporada, o sueco continuou de férias. Foi a forma que arranjou de colocar pressão no Sporting para que o vendessem, quando ainda faltava mais de um mês e meio para o fecho do mercado. Não havia ainda motivos para tamanho desespero.

Aquilo que Gyökeres fez dentro das quatro linhas é intocável. Duas temporadas bastaram para marcar um total de 97 golos, tornando-se no segundo melhor marcador do Sporting no século XXI, atrás somente de Liedson, e tendo sido, se não o principal, pelo menos um dos principais obreiros de um bicampeonato que os leões já não conquistavam há mais de 70 anos. Isso não lhe deveria dar, contudo, o direito de ter a atitude que demonstrou na hora da despedida.

No fundo, tudo isto era desnecessário. Ninguém pode apagar a influência que Gyökeres teve como jogador do Sporting, mas a sua passagem por Alvalade ficará para sempre manchada pela forma como decidiu deixar o clube. Todos os futebolistas têm ambições e devem lutar para concretizá-las, mas não vale tudo. Ou, pelo menos, não deveria valer. Gyökeres vai cumprir aquele que parecia ser o seu sonho – jogar num grande clube da liga mais mediática do mundo -, mas perdeu uma grande oportunidade para sair do Sporting pela porta grande.

Para terminar, e mesmo tendo apreciado a forma como o Sporting defendeu os seus interesses ao longo de todo este enredo, não cedendo à pressão do sueco nem vendendo-o ao desbarato, deixo uma crítica à forma como os leões atuaram no mercado durante as últimas semanas: é que ainda não foram anunciados reforços para a próxima temporada desde as contratações de Giorgi Kochorashvili e Alisson Santos, oficializadas em março – entretanto, parece que Luis Suárez está fechado, mas foi um processo que se arrastou por demasiado tempo. De certa forma, parece que o clube ficou refém da venda de Gyökeres para atacar o mercado, o que custa a entender dada a boa saúde financeira de que o Sporting aparenta gozar nos dias de hoje.

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