O Sporting CP foi o justo vencedor da Primeira Liga Portuguesa mas isso não significa que tudo foi um conto de fadas, aliás bem pelo contrário. Tal como Hjulmand disse, quem foi o clube que conseguiu ser campeão com três treinadores diferentes? Se Rúben Amorim saiu decido a sucesso, João Pereira saiu devido a insucesso e Rui Borges esteve numa linha muito fina entre o sucesso e o insucesso, daí continuar a gerar algumas dúvidas no seio de adeptos leoninos.
Especial Sporting Campeão 2024/25
Comecemos pelo início. Primeiramente é importante salientar o importante papel da direção do Sporting na construção do plantel, exceção feita ao erro de casting de Kovacevic, muito bem resolvido com a entrada de Rui Silva no mercado de inverno. Resistiram aos tubarões europeus e mantiveram Gyokeres e Hjulmand .
Adicionaram Maxi Araújo e Conrad Harder para substituir o suplente de luxo Paulinho. Era um plantel no mesmo nível, se não mais forte, comparativamente a época anterior. Estava feita a escolha desportiva em detrimento da financeira, escolha fundamental para o sucesso desta equipa.
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Há vários momentos que marcam a época “muito longa” do Sporting. Ruben Amorim começa e sai dos leões com apenas vitórias no campeonato, deixando a maior sensação de euforia que os sportinguistas têm memória, euforia essa que vagamente desapareceu após a sua saída numa altura precoce da temporada.
O 3-4-3 estava mais completo do que nunca e a equipa estava alinhada naquilo que eram as dinâmicas ofensivas e defensivas – ao ponto de fazer passes para o espaço sem olhar porque sabiam que x jogador lá apareceria.
Depois da maior onda de alegria, veio a onda de maior frustração. Varandas já o haveria dito, mas poucos acreditaram que apostaria realmente em João Pereira, treinador muito recente da equipa B, para assumir a equipa principal. O sistema era o mesmo, as dinâmica mudaram, alguns papéis mudaram e o futebol piorou de forma brusca.
Com esse futebol, também os resultados, levando os clubes rivais a aproximarem-se do pódio. Uma onda enorme de lesões não ajudaram, mas João Pereira não conseguiu ser feliz, acabando por ser despedido. Foram apenas 4 jornadas em campeonato nacional. Apostar em treinadores sem nível é sempre um risco, por diversos motivos, mas mais arriscado é apostar num treinador com uma experiência quase inexistente para um contexto de uma equipa que lutava para ser campeã – com todo o respeito por João Pereira. Um passo mais grande que a perna…
Poucos dias antes de um dérbi que influenciava em grande medida o campeonato, chegou Rui Borges, ex-treinador do Vitória SC, para assumir os leões e logo com uma vitória suada frente ao eterno rival Benfica. No entanto, apesar de se manter invicto até ao final do campeonato, a equipa de Rui Borges, com as várias lesões, foi mostrando sempre um futebol longe das expetativas dos seus adeptos – muito pragmático, “resultadista”, mais em procura do erro adversário do que com iniciativa própria, recorrendo inúmeras vezes – de forma inteligente – às capacidades individuais do seu plantel.
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O melhor elogio que podemos dar a Rui Borges é ser campeão invicto sem todos os jogadores que teve por lesão. Porém, isso não significa que não possamos analisar e criticar aquilo que foi o futebol de uma equipa que não parecia jogar para ser campeã.
“Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude.” (Rui Borges)
O problema é que faltou demasiada inspiração e foi valendo a atitude. Pedro Gonçalves voltou numa época fundamental da época. Mesmo que a um ritmo abaixo do normal, destaca-se em último na decisão (diferenciado dos seus colegas), pela forma como decide a um toque ou pela forma como finaliza passando à baliza.
Mas quem deixa Quenda no banco, não tem grande moral para falar sobre falta de inspiração quando foi ao longo de toda a época que saiu maior inspiração, maior criatividade no 1vs1 ou soluções fora da caixa. Não me esqueço de Trincão que foi fundamental ou Gyokeres que foi o grande responsável do sucesso do Sporting neste campeonato. Acredito o sueco precise de um grande tratamento depois de carregar tantas vezes a equipa às suas costas ao longo da época. Enquanto houve Hjulmand , houve cérebro.
Para além de todas as questões individuais, houveram momentos que foram simplesmente diferenciadores na forma como o Sporting consegue chegar ao título: o golo de Quaresma ao Gil Vicente nos descontos que permite o Sporting sair em vantagem com um empate no Estádio da Luz na penúltima jornada, um remate de Pavlidis ao poste que evita a derrota leonina e a descida para o segundo lugar e uma finalização de Pedro Gonçalves que tranquilizou por fim os adeptos de uma equipa bicampeã 70 anos depois.
“Dizem que não vamos ser tricampeões sem o Viktor (Gyokeres). Vamos ver.” (Pedro Gonçalves)
Com a grande provável saída do sueco, restam muitas dúvidas sobre o que poderá ser o Sporting da próxima temporada, mas dificilmente será mais forte. O jogo direto terá resultado? O Sporting manterá o sistema ou irá trocar. A linha defensiva voltará a ser formada por 4 jogadores como tentou Rui Borges nunca fase inicial? Como será construído este plantel? Que nuances novas criará?
Uma coisa é certa, precisará de novas dinâmicas porque a nível defensivo, tanto o Gil Vicente como o Vitória SC, de forma semelhante, conseguiram anular grande parte do jogo ofensivo leonino com bloco médio-baixo tentando anular sobretudo o meio-campo leonino (Gil Vicente perdeu quando perdeu Hjulmand de marcação e Vitória SC perdeu quando não controlou Pedro Gonçalves entre linhas).
O Sporting foi a melhor equipa deste campeonato, principalmente no primeiro terço da época, mas não foi superior ao seu rival na fase final da temporada. A questão pontual teve um enorme impacto e se o Sporting foi campeão ainda se deve mais a Rúben Amorim do que a Rui Borges (com todo o mérito que teve).
Esta foi uma época de enorme competitividade, porém a medir-se por baixo. Tal como já foi dito inúmeras vezes, não venceu o melhor, mas sim o menos pior.
Resta-nos, enquanto adeptos, poder presenciar um melhor futebol na próxima época e analisar, com muita intriga, como se comportará o Sporting para tentar ser tricampeão.
Por enquanto, vai ser bonito de observar como jogará frente ao Benfica na Taça de Portugal, sendo que não leva qualquer vantagem pontual para a partida.
PS: Rafael Pacheco, treinador e analista de futebol, tem nas bancas o livro “Sucesso Insucesso” que desafia a narrativa tradicional do futebol.
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