Ricardinho disse ‘adeus’ ao futsal, mas ficará para sempre lembrado como um dos melhores da história da modalidade. O internacional português deixou uma marca suficientemente forte nas quadras para que o seu legado seja esquecido com facilidade.
A magia que os seus pais provocavam e os dribles de levar as mãos à cabeça foram uma constante ao longos das 24 épocas enquanto sénior.
Nascido a 3 de setembro de 1985, Gondomar viu nascer aquele que viria a ser a grande estrela da modalidade a nível nacional. A sua altura – 1,65 metros – não permitiu que fosse além no futebol e lá estava o futsal pronto para receber o miúdo.
Passou pelo Gramidense Infante e Miramar, antes de se juntar ao Benfica, onde viria a ser ídolo. Foram sete temporadas de sucesso com quatro campeonatos ganhos, bem como quatro Supertaças e quatro Taças de Portugal. Ao serviço das águias, viria a ganhar a inédita Liga dos Campeões em 2009/10.
No seu auge, deixo os encarnados para rumar aos japoneses do Nagoya Oceans. Venceu três campeonatos no Japão e ainda passou pela Rússia por empréstimo ao CSKA Moscovo e pelo Benfica.
Tudo corria pelo melhor e sentiu a necessidade de regressar à Europa, desta vez ao serviço do Inter Movistar, na altura o melhor clube do mundo. Passaram mais sete anos de glória com mais duas Champions e seis títulos espanhóis e sete taças.
Depois de dois momentos de glória por Portugal, Ricardinho começou a viver os piores dias ao nível dos clubes. Passou a jogar em clubes menos competitivos como foi o caso do ACCS (França), Pendekar United (Indonésia), Riga (Letónia) e Ecocity Genzano (Itália).
A Glória europeia e mundial ao serviço de Portugal
Pelo meio, foi a grande referência da seleção nacional de futsal, onde viveu os momentos de maior glória e euforia. Ricardinho será o eterno número 10 que nos habituou ao entusiasmo por cada jogo que fazia ao serviço de Portugal.
A primeira grande competição de Ricardinho ao serviço da equipa portuguesa teve lugar em 2007, com a presença de Portugal no Campeonato da Europa. O Euro acabou por ser inesquecível para o ala que foi mesmo considerado o melhor jogador do torneio, ao patentear grande exibições e ao sagrar-se também o melhor marcador do torneio. Portugal acabaria por ficar no 4.º lugar da competição depois de ter sido derrotado no jogo de atribuição dos 3.º e quartos lugares.
Mais tarde, a 14 de setembro de 2016, aconteceu mais um dia escrito a letras douradas para Ricardinho ao serviço da seleção. O palco foi o Mundial da Colômbia, o adversário o Panamá. Portugal goleava por 9-0 o adversário no melhor resultado da seleção em fases finais. Ricardinho esteve em destaque absoluto com seis golos apontados, alcançando também a marca dos 113 golos ao serviço da seleção, o que lhe permitiu desde aí tornar-se no melhor marcador de sempre por Portugal. “É um dia para não esquecer”, disse na altura o astro luso.
A euforia de vencer um Europeu
Foi no dia 10 de fevereiro de 2018 que Portugal chegou pela primeira vez à glória europeia. Ricardinho até teve um jogo azarado ao sair lesionado no prolongamento – a fazer lembrar a lesão de Cristiano Ronaldo na final do Euro 2016. Mas acabou por ser Bruno Coelho, de livre direto, a fazer o papel de Éder, e marcar o golo da vitória a 55 segundos do final da partida.
O mágico inaugurou o marcador logo no primeiro minuto da partida com um forte remate. Ainda antes do intervalo a Espanha chegou ao empate por intermédio de Marc Tolrá. No segundo tempo, ‘nuestros’ hermanos conseguiram dar a volta ao texto, com Lin a fazer o 2-1. Mas Bruno Coelho a dois minutos do final do tempo regulamentar apareceu sozinho na área e fez o 2-2, levando o jogo para prolongamento onde Portugal acabou por levar a melhor.
O adeus de Ouro com o Mundial ganho
Foi mesmo a última competição ao serviço de Portugal e acabou em glória total. Dias antes Ricardinho tinha dito: “Podemos dançar o tango, desde que, no final, toque o fado”, numa alusão à final do Mundial a disputar frente à Argentina.
A primeira fase da competição até se desenrolou com alguns sobressaltos, mas Portugal, com capacidade de esforço, resiliência e qualidade conseguiu alcançar a almejada final. No jogo decisivo, a equipa portuguesa acabou por bater a Argentina na final por 2-1.
Os comandados de Jorge Braz chegaram a deter uma vantagem de dois golos, depois dos tentos de Pany Varela (15´ e 28´), mas ainda antes do final Claudino reduziu e manteve a incerteza no marcador. Mas Portugal acabou por confirmar a vitória, o melhor resultado na competição depois do terceiro lugar alcançado na Guatemala em 2000. Foi ainda o quarto país a erguer o troféu depois de Brasil, Espanha e Argentina.
No final da competição, Ricardinho foi eleito o melhor jogador do Mundial de futsal, que se realizou em Kaunas na Lituânia. Fechou assim desta em forma em glória a carreira do jogador luso ao serviço da seleção. Atleta ímpar, foi distinguido com o título de melhor jogador de futsal do mundo em seis ocasiões: 2010, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018. Foi considerado também o melhor jogador dos Europeus de 2007 e 2018.
Despedida para o melhor português de sempre no futsal
Aos 36 anos, em novembro de 2021, anunciou o fim da sua participação na seleção nacional.