Arsène Wenger voltou a lançar um debate global sobre o futuro do futebol. O histórico treinador do Arsenal e atual responsável pelo desenvolvimento global da FIFA propôs uma alteração à lei do fora de jogo que pode mudar radicalmente a forma como os golos são validados. A ideia é simples, mas ambiciosa: um jogador estará em jogo se qualquer parte do seu corpo com que possa marcar um golo estiver em linha com o penúltimo defesa.
Esta proposta surge como resposta direta às polémicas levantadas com a introdução do VAR, sobretudo nos lances milimétricos em que dedos do pé ou ombros fora de jogo têm anulado golos de forma controversa. “Com o VAR, essa vantagem desapareceu e para muitas pessoas isso é frustrante”, explicou Wenger à Bein Sports.
Regresso ao espírito de 1990
A inspiração vem do passado. Após o Mundial de 1990, em Itália — que registou a média de golos mais baixa da história da competição (2,21 por jogo) —, a FIFA implementou mudanças fundamentais para incentivar o jogo ofensivo. Entre elas, a regra de que um jogador em linha com o penúltimo defesa já não seria considerado em fora de jogo. A nova proposta segue esse mesmo espírito.
“Em caso de dúvida, a dúvida beneficia o avançado”, recordou Wenger, sublinhando que, antes, a vantagem era dada ao atacante nos lances mais discutíveis. A sua visão é clara: tornar o jogo mais atrativo, favorecer o espetáculo e devolver a liberdade criativa aos avançados.
Testes em curso e decisão final em 2026
A proposta já está a ser testada em campeonatos jovens em Itália, com novos ensaios previstos para breve sob supervisão da FIFA. A decisão final caberá ao International Football Association Board (IFAB), organismo responsável pelas leis do jogo, que reúne representantes de várias federações, árbitros e antigos jogadores.
Na sua última reunião anual, o IFAB deu luz verde para a continuação dos testes, com o objetivo de perceber se a alteração contribui para o aumento das oportunidades de golo sem comprometer a integridade competitiva.
Mais golos, menos polémica?
A discussão surge numa altura em que o futebol continua a ajustar-se à era do VAR. Com o recurso a tecnologia semiautomática, utilizada na Premier League desde abril, as decisões tornaram-se mais rápidas, mas nem sempre menos polémicas. O que Wenger propõe é uma redefinição do ponto de partida, um equilíbrio entre precisão tecnológica e lógica desportiva.
Caso a alteração seja aprovada, entrará em vigor, no máximo, até 2026, e poderá ter impacto direto em competições como o Mundial desse ano, organizado pelos Estados Unidos, Canadá e México.
A pergunta impõe-se: estará o futebol pronto para dar mais espaço ao talento e menos margem à régua e esquadro? Para Wenger, a resposta é clara — e está, como sempre, no ataque.